TARTUFOS MODERNOS 5545k

Há trezentos anos, Molière, um jovem francês, escreveu uma comédia chamada O Tartufo, que varou os séculos e chegou até nós revestida de impressionante atualidade. A trama girava em torno da família do burguês Orgon, que abrigou Tartufo em sua casa. Visto supostamente como piedoso, conquistou a confiança do dono da casa e de sua mãe. Ambos aram a tomar as lições de Tartufo como "santas". Mas, a família toda percebeu o caráter falso e manipulador do santarrão. Aproveitando-se dessa devoção, tenta seduzir Elmira, esposa de Orgon, convence-o a deserdar seus filhos e transferir-lhe a propriedade da sua casa. Elmira arma uma cilada para desmascará-lo. A peça termina com a intervenção do rei – símbolo da justiça —, que pune Tartufo e restaura a ordem na casa.

Molière mostra como Orgon é frágil diante do fanatismo de Tartufo e como certas tendências antiéticas manipulam facilmente o pensamento crítico de certas pessoas. Essa comédia bem construída lança um olhar bem afiado sobre a credulidade humana, os abusos do poder e a dissimulação como estratégias de dominação. Orgon torna-se um fantoche nas mãos de Tartufo, capitulando e cegando-se diante da hipocrisia moral. Essa comédia hilária, cheia de críticas sociais, ficou proibida durante bom tempo, até ser liberada e cair no gosto popular. Essa denúncia corajosa da hipocrisia e dissimulação como estratégias de dominação assentam-se sobre o modus vivendi dos dias atuais, especialmente no contexto político do Brasil.

A sociedade brasileira atualmente está quase toda sob a regência desses mestres de engenhosidade e manipulação grotescas. Não está difícil de identificá-los, tanto entre os falsos amigos que nos cercam como entre os falsos líderes ligados às leis e à política. Podemos assistir no dia a dia, a multiplicação desses movimentos antidemocráticos que propagam a apologia de mentiras e "tartufices". Estamos mergulhados em movimentos que sufocam a verdade e propagam a apologia do autoritarismo e da mentira.

Antes de terminar, à guisa de exemplo de "tartufices", ar-lhes-emos frases de um político atual; mesmo omitindo o nome do autor, fica muito fácil a identificação:

Frase 1. Em uma crítica à imprensa em 1910: "O povo não precisa de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública". Frase 2. Em abril de 2010: "Notícia é o que a gente quer esconder, o resto é propaganda". 3. Recentemente, o mesmo autor, amenizando autoritarismo e atrocidades, itiu que o conceito de democracia na Venezuela é "relativo"...

"Tartufice" é fingir ser amigo de alguém por puro interesse. "Tartufice" é quando uma empresa faz propaganda enganosa de seus produtos. "Tartufice" é enganar alguém de forma astuta. "Tartufice" é perseguição política em nome da manutenção da lei. As "tartufices" não param de se multiplicar e de fazer prosélitos. "A lei?", meu amigo, "ora, a lei"...